Palavras de quem constata incongruências
-
Flagelos...
Mesmo que obstinados numa vida
cotidiana simples e irrepreensível, ninguém há de se livrar dos pequenos
conflitos diários, ainda que se abstenham do desejo de vencer ou de lucrar.
- Crenças...
Que felicidade é essa, ou
tranquilidade, que vem da incerteza?
A vida é mesmo uma dúvida, mas é a única. Existe algo além de vida? Eu me
julguei certo e inteligente quando descobri que o sofrimento é insuperável. Mas
essa ideia pode ser a pior existente, eu de fato não sei a verdade, prefiro
crer nela.
Tornei-me cético, embora certo de que a verdade há, pois nada mais cético que
sua própria contradição. Pessimista, porque é a verdade nua e crua da nossa
existência, otimista porque deve haver outra existência.
Quem lhe convence? Quem lhe ama?
A que pessoa doaríamos os órgãos? Aos nossos queridos? Sim, por sentimento, não
por justiça. Qual de nós mereceu o prêmio? Qual de nós merece o prêmio?
Qual de nós pode dar sangue para pagar débitos? Qual de nós poderia dar seu
corpo para sobrevivência de outro?
- Falhas...
É impressionante. Julgamos
criteriosamente, mas somos nós que temos as chagas que fazem do julgamento algo
necessário.
- Hipocrisias...
Condenamos, porque não somos nós
os beneficiados. E quando é nossa vez de sermos condenados, justificamos também
dizendo que todos somos hipócritas.
Estamos presos num círculo vicioso de grotescas vergonhas, de uso sórdido de
mecanismos dos quais nós criamos, veneramos, e ao fim repudiamos.
Mas há algo de bom...
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